sábado, 14 de junho de 2008

Fotografia.

E então ela o olhou pela última vez. Ele com toda sua pose, o cabelo caído aos olhos e o mesmo sorriso de lado, demonstrando uma timidez fofa. Ao contrário do que se imagina, ela sempre o odiou. Tudo começou como uma ressaca. Não uma ressaca de bebida, mas a ressaca do mar. Aquela que, inevitavelmente, nos puxa para dentro ele. Depois de alguns meses, tudo isso se tornou apenas um barulho em sua mente. Como uma goteira. Barulho nada suportável. Pelo contrário, era tão irritante quanto poderia ser. Embora desde o início, ela tivesse certeza de que ela seria mais uma, o modo dele de agir, exatamente como a ressaca, não a deixava escapar. Ela não queria escapar. E, embora estivesse deitada no frio chão de mármore agora, ela ainda podia sentir seu calor. E, mesmo que estivesse sangrando, ela ainda sentia algo por ele. Ele parado, ainda na mesma pose, com o mesmo sorriso, negando ajudá-la. A foto foi tudo o que ele deixou após a gritaria da manhã. Já era tarde, e ela ainda sangrava. Chorava. Soluçava. A porta entreaberta, ainda lhe dava esperanças da volta dele. Ela chorava por ele. Sangrava por ele. E seu coração parou. Por ele.

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