domingo, 25 de maio de 2008

Déjà vu

Abri os olhos e mal pude acreditar no que via. Não. Não poderia ser verdade. Ele? Aqui? Agora? Como isso pode ser possível? Dúvidas não me faltavam. A única certeza que eu tinha era de que eu estava onde queria estar. Aqui. Ao lado dele. Eu já havia perdido muito tempo em minha vida. Achei até que não poderia ser feliz novamente; mas me sentia feliz aqui. E é incrível como apenas a presença dele me faz bem. Faz-me sorrir. Faz-me sentir a vida.
Meu coração batia desesperamente, esperando por respostas. Respostas que ele nunca quis me dar. Qual o problema? Eu não quero essas respostas agora mesmo. A coisa mais importante é o momento. Quase nunca falamos que queremos que tal pessoa diga isso ou aquilo. Sempre queremos a pessoa ao nosso lado. Mesmo que ela não diga nada. Como acontecia. Queria tanto poder gritar bem alto! Acordar a vizinhança toda para que todos soubessem que eu estava feliz. Não podia. Gritar acabaria com tudo. Ele iria acordar e iria embora. Como da outra vez. E eu não suportaria a falta que ele me faria novamente.
Parei por alguns minutos. Vinte minutos, talvez. E lágrimas saíam dos meu olhos. Olhando para ele, eu lembrava de tudo o que passamos juntos. Todos os momentos. Momentos de muita felicidade. E de tristeza também. Não importa. Foram momentos com ele. Isso bastava. Tantos momentos. Tantos. Inesquecíveis, eu diria. Momentos que me faziam lembrar de coisas que eu adoraria realizar novamente. Com ele.
A presença dele é tão doce. Ele é o sonho de toda garota. Daqueles que abrem a porta do carro para entrarmos. Daqueles que nos levam pra jantar sábado à noite. Daqueles que nos deixam ver novelas e não se importam de perder um dia do jogo de futebol do time favorito. Daqueles que tocam a campainha de nossa casa de uma forma especial e que, ao abrirmos a porta, nos deparamos com um lindo buquê de rosas. Realmente, ao meu lado, eu tinha tudo de que era preciso ter. Esperava por ele todos os dias. Aspirava à presença dele. E, hoje, ele está aqui. Ao meu lado. E, durante esse tempo, ele é meu. E ninguém pode tirá-lo de mim. Eu o tinha para mim - só pra mim - nessa noite.
Algum dia, eu poderia tê-lo novamente? Não queria pensar em perdê-lo. Queria pensar que eu o tinha. Não queria pensar até quando eu o teria. Queria aproveitar o momento em que eu o tenho. Momento único. Momento em que eu sofria, realmente, por tê-lo aqui, exatamente ao meu lado, tão perfeito e necessário que fosse assim, e não poder tocá-lo. Esse sofrimento acabava comigo, mas era um sofrimento que valia a pena. Um sofrimento que eu queria sempre pra mim, desde que ele estivesse aqui. Eu sofreria o que fosse possível se a presença dele estivesse junto à minha. Era melhor sofrer na presença dele que longe dela.
Como ele está lindo agora. Talvez, minha vontade de vê-lo estava me fazendo vê-lo não só com os olhos, mas com o coração. Dizem que só é possível saber o que se deseja quando se está diante daquilo desejado. Passei a acreditar nisso. Ele é tudo o que eu quero. E estava aqui. Deitado ao meu lado. Meu coração pulsava tão forte que eu podia vê-lo bater. Podia senti-lo. Minhas mãos? Geladas. Suando. Meus pés mais gelados ainda. Minha cabeça só conseguia pensar nele. Na presença dele, no cheiro...
De repente, um lapso. Se ele estava aqui, ao meu lado, onde estaria meu marido? Foi quando realmente me desesperei. Onde ele estaria? Levantei depressa e liguei a luz. Foi quando ele acordou. Meu marido. Olhou para mim com uma cara de sono e de assustado e logo perguntou:
- Que foi? Aconteceu alguma coisa? Você está bem?
Ilusão. Decepção. Tristeza.
- Não.. só queria ir ao banheiro.. e.., bom, boa noite.
Apaguei a luz e deitei. Meu pensamento? Como eu queria tê-lo ali de novo ao meu lado, mas, amanhã, ele estará aqui de novo. Como toda noite. Deitado. E a presença dele me faria esquecer, pelo menos alguns minutos, do mundo real; pelo menos enquanto seu cheiro estiver nesse travesseiro.

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