domingo, 7 de setembro de 2008

Meretrizes heróicas

Tema: Heroísmo

Quando eu era criança, a minha visão de “herói” era a de um ser superior que salvasse o mundo no final. Hoje em dia, heroísmo tem sido muito confundido com “bons atos”, “boa pessoa”, blábláblá. Se chamarmos um mendigo pra comer em casa, é sinal de heroísmo? O nome disso é: “tenho dó de você, fiz comida a mais, entra aí, colega.” Tomar banhos rápidos para “salvar” o mundo? O nome disso é banho mal tomado. Porco.
Olhando no dicionário outro dia, pesquisei “heroísmo” cuja definição era: generosidade. Oi? Intrigada, fui olhar o que era “generosidade” para o dicionário: pessoa que gosta de dar, que perdoa com facilidade. Herói dá? Se der, dá o que? Seu precioso tempo para salvar o mundo? Herói perdoa? Perdoa o quê, se ele mata os inimigos? Sem querer acabar com a “felicidade” das pequenas crianças, herói não existe, mas, não se preocupem Papai Noel também não. Ops! Até na televisão, em desenhos animados, pode-se questionar a definição passada de “heroísmo”. “As Meninas Super Poderosas”, por exemplo, destroem a cidade de Townsville inteira, lutam com um animal – que não sabemos se está em extinção ou não -, para salvar o “mundo”.
O problema está em crescer. Os adultos que “cresceram” vendo “He-man”, “Capitão América”, vêm com sede de ser super-herói, e, com a racionalidade que lhes é de direito, acabam distorcendo o que é heroísmo - que nada mais é do que um ato de desenho animado. Virar Al Gore para salvar a Amazônia, não te torna herói. Comprar crianças na África, não te torna herói. Jogar crianças da janela, não te torna herói. Não ter um dedo, não te torna herói – mesmo que você o tenha perdido em “trabalho digno”. Aliás, todo trabalho é digno. Só não sabemos do que, mas é digno.
Outro dia, enquanto andava de carro – não, não sou super herói para voar -, peguei uma carreata de um político qualquer. O povo acenava, chorava - ? -, gritava o nome do dito cujo. Uma fila imensa de carro buzinando, azucrinando a vizinhança com tanto barulho. Sem contar aquelas músicas parodiadas, provavelmente da Ivete Sangalo, que grudam na cabeça. A pergunta é, por que tratar um político como se ele fosse fazer tudo certo – ou seja, como se ele fosse um herói -, se, no fim das contas, todos sabem que ele não vai? Necessidade momentânea de confiar em alguém? Falta momentânea de neurônios, que só nos prejudicará depois que o político vencer as eleições?
Precisamos deixar de ser crianças, parar de acreditar em “contos de fadas”, “heróis” e afins. Já que a preocupação é “salvar o mundo”, ele precisa de cérebros e não de super poderes. Queremos racionalizar tudo que nos aparece na fuça, mas, na hora que precisa mesmo racionalizar, votamos. É completamente aceitável esse tipo de atitude. Afinal, se o Aurélio Buarque, da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filologia diz que meretrizes são heroínas, votar é completamente heróico. Aliás, estamos “dando” uma chance e “perdoando” os políticos. Fofo.

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